sábado, 21 de março de 2009

"MUROCRACIA" *

César William
(Poeta, pesquisador, professor de Língua Portuguesa, Literatura e Produção Textual - Concludente do curso de Letras do Cesti/Uema)

O momento é crítico. Fala-se em crise nos quatro cantos do mundo. Nem as superpotências mundiais escapam. Nos Estados Unidos, quem diria: demissões em massa. Desde a gigantesca queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, não se via o "Tio Sam" tão afetado. Problemas de caráter energético, alimentar e financeiro vêm fragilizando nações. No Brasil, a situação não é diferente, apesar das boas relações e abertura de crédito com essas potências e todo o esforço do governo Lula.
Mas, o que aturde a população brasileira não são os escassos rendimentos às populações, sobretudo as mais carentes da sociedade. Não é a renda per capita nem o índice do Produto Interno Bruto do apaís, seus estados ou municípios.
Um outro infortúnio vem maltratando a população: trata-se de um gás asfixiador, veneno às vezes letal. Essa substância é encontrada nos gabinetes das câmaras, nas prefeituras, secretarias e em todos os cantos em que possamos encontrar portadores da síndrome dos embaraços.
O tal veneno não possui rótulo. Também não tem frasco definido. Pode ser encontrado a qualquer hora. Aliás, em alguns casos ele nem é visto, porque não há quem o manuseie, mas mesmo assim estará presente: nos armários, pastas, arquivos. Assinalados nos murais, sobre mesas ou em fichários.
Também costuma aparecer em forma de portaria, de processo, de alvará. Como ofício, memorando, requerimento, petição etc. Adora um tal protocolo, uma senhora data, um senhor aguarde, uma vossa senhoria senha, uma ilustríssima fila. Geralmente se aloja em porta-voz da suprema hierarquia. E esse(a) só o que porta quase sempre é mesmo a voz e em alguns casos com dislexia, disfonia e outros distúrbios fônicos.
E geralmente é um traste sem sensibilidade esse(a) tal porta-voz. Engana até a mãe, se possível. Tudo para proteger com larga baba quem o traja de bobo(a) da corte para os mil e um disfarces a um público já tão habituado a suas manobras radicais.
Quando juntos: veneno, porta-voz e voz. Eis que está formada a dinâmica equipe, companhia apaixonada por tudo o que dificulta o acesso de quem tanto precisa, haja vista o grande interesse dessa aliada dos órgãos públicos, inimiga do público e operadora em benefício próprio.
A operação pode surgir do nada. Sem mais nem menos ela aparece. Surge em forma de gerenciadora, procuradora, órgão fiscalizador, parceria e em alguns casos, sendo mera controladora das finanças.
Como todo gás, esse de que trato é leve, flutua, ninguém o segura. Escapa com facilidade. Gosta que haja muitos problemas, de preferência que nunca sejam solucionados. É bem inflamável. A qualquer momento será pura explosão, porque não costuma dividir espaço: tudo tem que ser para ele, intrépido combustível da burocracia, alto muro da ganância, o esfacelador de sérios e importantes projetos, o manobrista. Seu nome? MUROCRACIA.
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*Publicado no jornal Tribuna do Maranhão (março/2009)

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