quarta-feira, 25 de março de 2009

CORTES NA LÍNGUA*

César William
(Poeta, Professor de Língua Portuguesa, Literatura, Produção Textual e Pesquisador. Concludente do curso de Letras do Cesti/Uema)


Feiúra (refiro-me à palavra), a partir de 2009 perderá seu acento e ficará feia, mesmo, se algum desavisado escritor insistir em empregar-lhe o agudo, após 2011. Também será idéia triste se esse mesmo acento ainda recair nas palavras idéia, assembleía, heróico e outras. Que ideia é essa, meu Deus?
São essas algumas das mudanças ortográficas que entrarão em vigor a partir do ano vindouro. Trata-se de um acordo cujo objetivo é unificar a ortografia ofocial dos países de língua portuguesa, sobretudo aproximar nações que falam o referido idioma. A princípio, soa-nos harmoniosa a cartada em torno dos lusófonos: Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomer e Príncipe e Timor Leste.
Entretanto, se a intenção é extinguir algumas diferenças que há entre o português falado nos já citados países, outros questionamentos hão de ser feitos. Vejamos: essa reforma será realmente suficiente para que os falantes da língua portuguesa se tornem "cincronizados", lingüisticamente falando? Brasil, Moçambique e Timor Leste (só para citar três desses países) estão preparados economicamente para essa mudança? Didaticamente, que problemas poderão surgir para os estudantes, sobretudo aos alunos do Ensino Fundamental que já sofrem com antigas normas estabelecidas?
O professor e gramático, Itamar Figueiras, no 6º Salão do Livro do Piauí, foi bastante enfático quanto às alterações. Segundo ele, "é inadmissível que um país com tantos problemas: falta de saneamento básico, moradia, alto índice de analfabetismo, violência etc., venha se prender a mudanças tão insignificantes, para gastos exorbitantes com reedição de livros e readaptação do sistema, trazendo mais problemas aos estudantes".
Outro professor e gramático, em entrevista a um jornal do sudeste do país, o Pasquale Cipro Neto, é também contrário ao acordo. Este alega que "ele não se limita a uniformizar a grafia: estabelece outras alterações no sistema ortográfico, várias delas para pior". Também não concordamos, haja vista que sentimos que a intenção é mais mercantilista que gramatical.
Mas, para não dizer que somos pessimistas, demos razão àquele que fora o maior defensor desse processo de unificação, o filólogo Antônio Houaiss. Para ele, "a existência de duas grafias oficiais acarreta problemas na redação de documentos em tratados internacionais e na publicação de obras de interesse público".
Também, convém dizer que a reforma entrará em vigor a partir de 2009, mas os candidatos a concursos públicos e vestibulares poderão se utilizar das duas grafias até 31 de dezembro de 2011. Para quem já não registrava a antiga, agora com mais essa, como ficará? Se bem que, quanto a isso, muitas palavras não serão mais mal grafadas, pelo menos até 2011, por quem desconhece as antigas ou as novas regras de acentuação gráfica.
Findamos, pois, com o discurso otimista do presidente da Academia Brasileira de Letras, Cícero Sandroni: "inscreve-se, fianlmente, a língua postuguesa no rol daquelas que conseguiram beneficiar-se há mais tempo da unificação do seu sistema de grafar, numa demosntração de consciência da política do idioma e de maturidade na defesa, na difusão e na ilustração da língua da lusofonia". Amém!

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*Publicado no Jornal Tribuna do Maranhão. 25ª edição (16/11/2008)




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