quinta-feira, 26 de março de 2009

FANTASMAS DA RUA VILA SUL*

CÉSAR WILLIAM
(Poeta, professor de Língua Portuguesa, Literatura e Produção Textual e pesquisador. Concludente do curso de Letras do Csti/Uema)

Nosso planeta é uma gleba de cifras e cifrões. Vivemos perdidos em corredores de letras e númeross:CPF, CI, Título Eleitoral, chassi do carro, da moto, PIS/PASEP, telefone fixo, celular(es), e-mail, cartão de crédito, número da conta bancária, da agência, da senha. Não estou colocando em pauta o número dos candidatos a prefeito e a vereador. Temos ainda, o número da casa, da quadra, da rua em que moramos, seu Código de Endereçamento Postal etc.
E foi em relação a este último, caríssimo leitor, que terminei me sentindo um algarismo perdido na multipliocação dos registros burocráticos. Recentemente, ao me dirigir à agência 2726-X, do Banco do Brasil, para receber um cartão de crédito, fui surpreendido ao descobrir que não existo.
Sim! Isso mesmo, caríssimo leitor! É que há alguns meses mudei para a rua Vila Sul, do Bairro São Benedito, em Timon -MA. Ocorreu que para eu receber o tal cartão, teria que fornecer ao funcionário do BB o número do CEP daquela rua.
Eis que o funcionário, nadando em um oceano de calmaria, (mesmo diante de uma chusma de ansiosos clientes na fila de espera) soltou o seguinte alarde: "a rua Vila Sul não existe, senhor". Retruquei e ele obtemperou: "pelo menos não consta em nosso sistema".
Ao ouvir a discrepante sentença, engoli uma bola de fogo e senti o borbulhar do meu sangue, dos pés à cabeça, mas contive-me e contrar-argumentei:"quer dizer que os comprovantes de residência que lhe apresentei nada valem. Então o SAAE e a CEMAR estão emitindo boletos a fantasmas na Rua Vila Sul. Eu, a Socorro, a Niele, Dona Raimundinha, a Julinha e tdos os moradores daquela rua somos espectros?
Em meio a um bate-e-rebate, dirigi-me à agência dos Correios em Timon e um funcionário certificou-me que realmente a rua Vila Sul ainda não possui registro e que provisoriamente eu teria que me utilizar do CEP geral da cidade.
Depois disso, retornei ao banco e percebi que a quantidade de senhados aguardando a chamada eletrônica para atendimento havia qüinqüimplicado e que eu deveria portar nova senha. Saltei do número 17 para o 121.
Então, dirigi-me à mesa 1, a mesma em que havia sido atendido e ouvi as mesmas argumentações. Notando que seria puro desgaste, dirigi-me ao gerente e este, a par da situação, finalmente liberou o cartão. Retornei à mesma mes para aquisição de senha e desbloqieio da nova aquisição. Respirei aliviado.
Mas, diante do sistema de endereçamento da Empresa de Correios e Telégrafos - ECT, eu e todos os moradores da Vila Sul estamos no sul do anonimato e esperamos que não haja demora para que passemos a ser incluídos na relação de endereços do BB.
Caso contrário, teremos que fornecer o endereço do próprio banco, já que terminamos, mesmo sem querer, morando nas intermináveis filas daquela agência, sendo recepcionados por um lentíssimo atendimento.
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*Publicado no jornal Tribuna do Maranhão , 19ª edição (05/08/2008)

quarta-feira, 25 de março de 2009

CORTES NA LÍNGUA*

César William
(Poeta, Professor de Língua Portuguesa, Literatura, Produção Textual e Pesquisador. Concludente do curso de Letras do Cesti/Uema)


Feiúra (refiro-me à palavra), a partir de 2009 perderá seu acento e ficará feia, mesmo, se algum desavisado escritor insistir em empregar-lhe o agudo, após 2011. Também será idéia triste se esse mesmo acento ainda recair nas palavras idéia, assembleía, heróico e outras. Que ideia é essa, meu Deus?
São essas algumas das mudanças ortográficas que entrarão em vigor a partir do ano vindouro. Trata-se de um acordo cujo objetivo é unificar a ortografia ofocial dos países de língua portuguesa, sobretudo aproximar nações que falam o referido idioma. A princípio, soa-nos harmoniosa a cartada em torno dos lusófonos: Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomer e Príncipe e Timor Leste.
Entretanto, se a intenção é extinguir algumas diferenças que há entre o português falado nos já citados países, outros questionamentos hão de ser feitos. Vejamos: essa reforma será realmente suficiente para que os falantes da língua portuguesa se tornem "cincronizados", lingüisticamente falando? Brasil, Moçambique e Timor Leste (só para citar três desses países) estão preparados economicamente para essa mudança? Didaticamente, que problemas poderão surgir para os estudantes, sobretudo aos alunos do Ensino Fundamental que já sofrem com antigas normas estabelecidas?
O professor e gramático, Itamar Figueiras, no 6º Salão do Livro do Piauí, foi bastante enfático quanto às alterações. Segundo ele, "é inadmissível que um país com tantos problemas: falta de saneamento básico, moradia, alto índice de analfabetismo, violência etc., venha se prender a mudanças tão insignificantes, para gastos exorbitantes com reedição de livros e readaptação do sistema, trazendo mais problemas aos estudantes".
Outro professor e gramático, em entrevista a um jornal do sudeste do país, o Pasquale Cipro Neto, é também contrário ao acordo. Este alega que "ele não se limita a uniformizar a grafia: estabelece outras alterações no sistema ortográfico, várias delas para pior". Também não concordamos, haja vista que sentimos que a intenção é mais mercantilista que gramatical.
Mas, para não dizer que somos pessimistas, demos razão àquele que fora o maior defensor desse processo de unificação, o filólogo Antônio Houaiss. Para ele, "a existência de duas grafias oficiais acarreta problemas na redação de documentos em tratados internacionais e na publicação de obras de interesse público".
Também, convém dizer que a reforma entrará em vigor a partir de 2009, mas os candidatos a concursos públicos e vestibulares poderão se utilizar das duas grafias até 31 de dezembro de 2011. Para quem já não registrava a antiga, agora com mais essa, como ficará? Se bem que, quanto a isso, muitas palavras não serão mais mal grafadas, pelo menos até 2011, por quem desconhece as antigas ou as novas regras de acentuação gráfica.
Findamos, pois, com o discurso otimista do presidente da Academia Brasileira de Letras, Cícero Sandroni: "inscreve-se, fianlmente, a língua postuguesa no rol daquelas que conseguiram beneficiar-se há mais tempo da unificação do seu sistema de grafar, numa demosntração de consciência da política do idioma e de maturidade na defesa, na difusão e na ilustração da língua da lusofonia". Amém!

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*Publicado no Jornal Tribuna do Maranhão. 25ª edição (16/11/2008)




sábado, 21 de março de 2009

"MUROCRACIA" *

César William
(Poeta, pesquisador, professor de Língua Portuguesa, Literatura e Produção Textual - Concludente do curso de Letras do Cesti/Uema)

O momento é crítico. Fala-se em crise nos quatro cantos do mundo. Nem as superpotências mundiais escapam. Nos Estados Unidos, quem diria: demissões em massa. Desde a gigantesca queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, não se via o "Tio Sam" tão afetado. Problemas de caráter energético, alimentar e financeiro vêm fragilizando nações. No Brasil, a situação não é diferente, apesar das boas relações e abertura de crédito com essas potências e todo o esforço do governo Lula.
Mas, o que aturde a população brasileira não são os escassos rendimentos às populações, sobretudo as mais carentes da sociedade. Não é a renda per capita nem o índice do Produto Interno Bruto do apaís, seus estados ou municípios.
Um outro infortúnio vem maltratando a população: trata-se de um gás asfixiador, veneno às vezes letal. Essa substância é encontrada nos gabinetes das câmaras, nas prefeituras, secretarias e em todos os cantos em que possamos encontrar portadores da síndrome dos embaraços.
O tal veneno não possui rótulo. Também não tem frasco definido. Pode ser encontrado a qualquer hora. Aliás, em alguns casos ele nem é visto, porque não há quem o manuseie, mas mesmo assim estará presente: nos armários, pastas, arquivos. Assinalados nos murais, sobre mesas ou em fichários.
Também costuma aparecer em forma de portaria, de processo, de alvará. Como ofício, memorando, requerimento, petição etc. Adora um tal protocolo, uma senhora data, um senhor aguarde, uma vossa senhoria senha, uma ilustríssima fila. Geralmente se aloja em porta-voz da suprema hierarquia. E esse(a) só o que porta quase sempre é mesmo a voz e em alguns casos com dislexia, disfonia e outros distúrbios fônicos.
E geralmente é um traste sem sensibilidade esse(a) tal porta-voz. Engana até a mãe, se possível. Tudo para proteger com larga baba quem o traja de bobo(a) da corte para os mil e um disfarces a um público já tão habituado a suas manobras radicais.
Quando juntos: veneno, porta-voz e voz. Eis que está formada a dinâmica equipe, companhia apaixonada por tudo o que dificulta o acesso de quem tanto precisa, haja vista o grande interesse dessa aliada dos órgãos públicos, inimiga do público e operadora em benefício próprio.
A operação pode surgir do nada. Sem mais nem menos ela aparece. Surge em forma de gerenciadora, procuradora, órgão fiscalizador, parceria e em alguns casos, sendo mera controladora das finanças.
Como todo gás, esse de que trato é leve, flutua, ninguém o segura. Escapa com facilidade. Gosta que haja muitos problemas, de preferência que nunca sejam solucionados. É bem inflamável. A qualquer momento será pura explosão, porque não costuma dividir espaço: tudo tem que ser para ele, intrépido combustível da burocracia, alto muro da ganância, o esfacelador de sérios e importantes projetos, o manobrista. Seu nome? MUROCRACIA.
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*Publicado no jornal Tribuna do Maranhão (março/2009)

terça-feira, 3 de março de 2009

INFÂNCIA ROUBADA*

CÉSAR WILLIAM
(Poeta, professor de Língua Portuguesa e pesquisador - Concludente do curso de Letras do Cesti/Uema)


Na obra “Vidas Secas”, romance de Graciliano Ramos, detectamos um drama em torno de uma família simples, rústica, vítima da impiedosa tocaia do sertão e dos cruéis ditames coronelistas em meio à seca e suas conseqüências.
O livro, referencial das letras brasileiras, considerado pela crítica como um dos melhores romances da nossa literatura, traz como personagens centrais: Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos (o menino mais velho, o menino mais novo) e a cadela Baleia.
Essa família de retirantes nos comove, cada vez que lemos a obra ou sempre que assistimos ao filme de homônimo. A forma desumana como Fabiano (o pai) e Sinhá Vitória (a mãe) tratam seus filhos é de deixar qualquer um contrariado.
Mas, a brutalidade entre os personagens tem justificativa: fome, miséria, falta de abrigo, educação e perspectivas conduzem os coitados por caminhos perigosos, na aspereza de um cotidiano doentio, desesperançoso.
E isso nos exaure do sentimento de ojeriza a Fabiano e à Sinhá Vitória, uma vez que estes são vítimas, não só da vida dura do sertão, mas também dos maus tratos sociais, da má política agrária e da desumanidade.
Entretanto, o que não entendemos mesmo é por que tantas crianças são vítimas de maus tratos, humilhações, todos os dia, pelos próprios pais ou por “responsáveis”, quando estes gozam de recursos, às vezes até assumindo cargos de destaque na sociedade.
Mais indignados ficamos quando vemos pessoas que passaram ou que passam constantemente por processos de aprendizagem, sob as mais variadas teorias, agredirem seus filhos sustentados pelos mais incabíveis e discrepantes álibis.
E com alguns pretextos, xingam, gritam, ameaçam, beliscam, estapeiam e alegam o que fazem em prol dos seus pimpolhos, como se isso não fosse tarefa de sua plena responsabilidade. Recentemente, presenciei uma mãe expor seu filho de apenas cinco anos de idade ao ridículo, simplesmente porque este lhe fez algumas perguntas, indagações típicas de qualquer criança da sua faixa etária. Ao chamar a atenção da genitora, ela disparou a seguinte frase, chavão dessas despreparadas criaturas: “O filho é meu!”.
Não quero, caríssimo leitor, encher esta página com exemplos de barbáries quanto aos maus tratos a crianças, assunto tão corriqueiro, infelizmente. Mas tentar sensibilizar alguns pais assassinos de infâncias, ladrões de alegrias e de ternuras e corruptores a que tenham o mínimo de senso em relação àqueles que puseram no mundo, pois amanhã esses meninos serão os reflexos do bom ou mau trato que recebem e nenhum presente caro ou roupinha bonita devolverá, jamais, sua infância roubada.

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*Publicado no jornal Tribuna do Maranhão (Edição de n° 31)

segunda-feira, 2 de março de 2009

SOCORRO POR TODO LADO*

CÉSAR WILLIAM
(Poeta, professor de Língua Portuguesa e pesquisador - Concludente do curso de Letras do Cesti/Uema)

Nunca vi lugar para ter tanta homonímia quanto à palavra que hoje é modismo nesta cidade, Socorro. E se já disse que o povo perdeu a espontaneidade em relação à ida a comícios, carreatas, "caminhadas" etc., faço então algumas considerações.
Dessa falta de voluntariedade, Timon é um caso atípico da política nacional. Basta olharmos para a vizinha cidade de Teresina e fazermos uma comparação. Lá é bem diferente daqui. É percebível que mesmo sem haver (tanta) ostentação ideológica, como também ocorre no restante do país, em Timon há paixão, entusiasmo mais apimentado. As lideranças principais da cidade disputam palmo a palmo, até o último milímetro de desejo e até o derradeiro milésimo de esperança.
Mas, que me perdoe o querido (e)leitor. Meu assunto aqui é mesmo Socorro. O nome que está não só na boca do povo, mas em uma grande parte da população feminina timonense. Para todo lado há Socorro. Quando aqui cheguei, em julho de 2005, conheci uma senhora, funcionária da biblioteca Odylo Costa filho, que se tornou grande amiga minha. Seu nome? Socorro.No cursinho Pré-Vestibular Popular, em um dos seus pólos, o colégio Higino Cunha, tive nada mais, nada menos que cinco alunas que atendiam pelo homônimo. E não pára por aí, não. No antigo colégio Éden, no colégio Nota Dez e no Padre Delfino, as salas de aula sempre foram fartas de Socorros.
Porém, o celeiro das homonimizadas criaturas é mesmo o Cesti/Uema. Vejamos: Socorro Campelo, Socorro Coelho, Socorro Carneiro, Socorro Batista - passou por lá ainda, Ana Socorro e já estão pensando em levar àquela casa, para uma apresentação artístico-cultural, a bailarina e atriz Socorro Bernabé.
Além disso, uma das mais importantes cabos eleitorais do meu amigo Leal Filho é Socorro. Certamente ela fizera uma reunião em sua casa e descobri que sua vizinha, ao lado, também era Socorro. E na dita reunião descobri outras.
É 15 mil vezes Socorro. Só na rua em que moro há duas. Uma pertinho da outra. Hoje cedo, ao passar pela Avenida Luís Firmino de Sousa, veio a passos lentos uma senhora, grávida, em minha direção. O seu nome? Não, não é Socorro, mas dissera-me (sem pedir segredo) que fizera uma promessa: "se a prefeita for reeleita, o nome da menina será Socorro". E assim o fará. E se essa moda pegar, quantas mais hão de surgir?
Longe de mim o pensamento de querer trocadilhar, mas terminei nos braços de uma dessas Socorro. Ela também é professora e nem sabe o quanto a quero bem e que, ao contrário do que todos possam pensar, não é à prefeita Socorro Waquim a quem dedico esta humilde quase crônica, mas a ela, Maria do Socorro de Sousa.
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*Publicado no jornal Tribuna do Maranhão out/2008.

PERSONAS NON GRATAS*

CÉSAR WILLIAM
(Poeta, professor de Língua Portuguesa e pesquisador -Concludente do curso de Letras do Cesti-Uema)

Caríssimo leitor, desde que iniciamos nosso trabalho neste recanto cultural, temos tido muitos contentamentos, mas também alguns dissabores por parte daqueles que sofrem de miopia ou são estrábicos. A última decepção ocorrera recentemente, ao falar com um senhor (manterei seu nome em sigilo) por telefone. Este se demonstrou insatisfeito com esta página, porque, segundo ele, o nome do presidente da Academia de Letras, Artes e Ecologia do Leste Maranhense, Nicolau Waquim Neto, não está sendo referenciado a contento neste espaço. Ledo engano, caro senhor. Tudo o que temos feito é divulgado ao máximo, os autores pertencentes à ALAELMA (inclusive foi idéia nossa abreviar o nome da referida academia, como é comum em outras do gênero). Esta página foi idealizada por este editor cujo espaço fora franqueado pelo escritor Nicolau Waquim Neto, após indicação do nosso nome ao jornalista Evaristo Dias (diretor de redação do Tribuna do Maranhão), ocasião em que selamos contrato, há quase dois anos. Apenas a seção Sabedoria Timonense é que é de idealização do presidente da ALAELMA e fora ele quem escolhera o local do seu espaço na referida página. As frases que são publicadas naquele espaço são escolhidas ou pelo próprio autor ou às vezes, quando ele não dispõe de tempo, ajudamos a escolhê-las. Em muitos momentos esse material não nos é fornecido em tempo hábil e, não raro, as frases vêm sob ordem alfabética: dezenas iniciadas por uma determinada letra. Para não cansarmos o leitor, sugerimos então que outras sejam apresentadas, resultando nisso o fato de às vezes haver mais ou menos aforismos. Longe, portanto, a idéia de discriminar quem tanto nos apóia, voz quase solitária em seu próprio meio. Quanto à miopia e ao estrabismo que relatamos no início deste texto, caríssimo leitor, não nos referimos ao senhor do tal telefonema, mas a uns dois “intelectuais” que o instigaram a pensar torto feito eles. É que por não terem (muito) o que fazer, alguns membros da ALAELMA resolveram cercar o seu presidente em seu gabinete (ambiente de trabalho) com alegações infundadas de que a página criada por este colaborador não divulga a academia e seus membros. Então vamos aos fatos: Quando iniciamos este projeto, em dezembro de 2006, na primeira edição do Caleidoscópio Cultural, reservamos a página inteira para divulgação dos projetos e de alguns poemas do presidente da ALAELMA, Nicolau Waquim Neto. Desde então, solicitamos a participação do leitor, sobretudo dos acadêmicos, embora nunca tenhamos recebido uma sequer linha de nenhum destes. Tudo o que publicamos até agora é porque fomos até alguns deles, e não nos arrependemos, porque entendemos que os bons não podem pagar pelos maus. Na segunda edição do referido suplemento cultural (edição de 5 de fevereiro de 2007), foi a vez do também acadêmico Barripi. Na edição de 01/03/07 caleidoscopiamos a professora Mundoca, também membro da ALAELMA. Em 16/03 daquele ano, trouxemos à tona o poeta Dudu Galisa, outro membro. Em 20 de junho de 2007, com o título “Aguerrido Cavaleiro Andante”, lá estava mais uma vez a divulgação do trabalho do senhor Barripi, “Universo do Saber”. E não pára por aí, não! Na edição de (25/01/2008) novamente o presidente da ALAELMA esteve presente, divulgando os projetos da referida casa. No número seguinte (11ª edição, em 25/02/2008), foram 36 frases expostas, ocasião em que divulgávamos seu livro, “Baú de Pérolas”, com chamada na capa deste jornal. Além disso, prestamos-lhe uma homenagem com a crônica “Santo de Casa”, na mesma edição. Novamente, em 11 de maio de 2008, a página inteira fora destinada ao mesmo autor, momento em que se comentavam as prévias de lançamento do seu livro, “Baú de Pérolas” que está no prelo. Também houve chamada na capa deste jornal. Além do mais, temos divulgado mais a academia que muitos dos seus membros, convidando alguns para participação em palestras, fóruns, exposição de poemas etc. Abrimos a seção Recanto da Poesia, solicitando envio de textos para a mesma, entretanto nunca chegara a nós nenhum verso de autor timonense. Veio de São Luís, de Caxias e de Teresina. Não temos culpa, o espaço é para todos. Porém, fomos à procura do Osiel Silva, da ALAELMA e publicamos um texto seu, sem título (edição de número 20 do Tribuna). Fomos à casa do Barripi e publicamos três sonetos seus, na edição de número 23 deste periódico. Então, onde ficam brechas para tanta cegueira, caduquismo e tamanha leviandade e indiferença ao nosso trabalho, a ponto de se dizer que a seção Sabedoria Timonense é resto de página? Entendemos que quando menos frases publicadas a cada edição, melhor é para o leitor e para o autor. Quanto à quantidade de frases na referida seção, aconselhamos a que leiam os jornais Folha de São Paulo, O Globo, Correio Brasiliense ou qualquer outro do Brasil e do mundo. Descubram como são apresentados os aforismos e os pensamentos e depois conversem com este editor. Não é a quantidade de palavras nem o local do espaço em que escrevemos que garantirá o valor literário de determinada obra. Além do mais, escritor que se preza tem que ter confiança no que faz ou ser consciente daquilo que nunca será capaz de fazer. O próprio poeta Nicolau nunca se preocupou com esses detalhes, pois ele não é apenas um frasista, mas um fraseologista e tem confiança quanto ao que escreve. Também informamos ao leitor que nossa página é cultural, sendo assim, não tem a obrigatoriedade de retratar apenas a literatura local, por isso o nome CALEIDOSCÓPIO, uma vez que cultura é de uma abrangência pluralista. Eis a razão pela qual temos divulgado o projeto Girassol, com seus bailarinos, músicos, artistas plásticos etc. Também a nossa capoeira, nossos bumba-bois. Temos comentado autores de São Luís, de Caxias, já que o Tribuna não é apenas timonense, mas do Maranhão. E para fim de conversa, ressaltamos que temos abordado autores piauienses de nossa vizinha Teresina, como H. Dobal e o dicionarista Adrião Neto, o maior divulgador dos autores timonenses. Que mal há nisso? Bom mesmo é investir em boas leituras para que haja discussões com ricos argumentos, centradas no campo literário, e não amarradas em cauda de picuinhas. Que nos espelhemos no que dissera Clarice Lispector: “A palavra é meu domínio sobre o mundo” e passemos a ajudar a ALAELMA e seu sobrecarregadíssimo presidente. No mais, façamos jus ao título que ostentamos.

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*Publicado no jornal Tribuna do Maranhão 28/10/2008.

CAMINHO DE RI(S)COS*

CÉSAR WILLIAM
(Poeta, professor de Língua Portuguesa e pesquisador -Concludente do curso de Letras do Cesti-Uema)

Sempre atentei para o perfil dos grandes escritores, sobretudo dos grandes poetas. Ainda menino, já observava que as letras pareciam ser o endereço somente dos elitizados. Homens letrados eram, ou de um meio social privilegiado ou tinham vínculos com este e através dele conseguiam se projetar. Iam à Europa, exerciam cargos importantes: diplomatas, juízes, cônsules, poliglotas tradutores, embaixadores, políticos etc.
Sobre isso, eu não estava de todo enganado. Nunca estive. Continua (quase) assim. Quando se descobre um desses grandes vultos das letras, raramente se detecta algum que venha verdadeiramente das bases. Quando não muito, salvam-se os que nela estiveram, mas que conseguiram mudar sua geografia.
Eis uma questão a ser discutida nas escolas, universidades, simpósios, fóruns e conferências: o difícil acesso que as classes desprivilegiadas têm ao mundo das letras. Não que as camadas menos favorecidas não produzam literatura de qualidade, porém pela discriminação que os escritores sem recursos econômicos sofrem por trazerem esse estigma.
E não adianta trazer à tona nomes como Lima Barreto, Machado de Assis nem citar os possíveis exageros de Humberto de Campos quanto ao seu “estado de miséria”, apresentado em suas memórias. Não! Poupemos esses nomes e outros raros. Olhe ao lado da sua casa, pode ser que haja um escritor ou um poeta que produza bons textos, mas não consegue publicá-los, porque está à margem do processo editorial. Pode até ser um autor promissor, mas não é esperado. É tido como louco. Talvez seja metido. Quem sabe plagiador. Um anacrônico. Um blefador ou mesmo um habitante do ócio.
Acontece que o caminho é labiríntico, é mesmo de riscos e parece que também feito para ricos, pois os pobres que tentarem perquiri-lo hão de ser resistentes além da conta e abrir suas próprias veredas. Terão que se deixar contaminar pelas palavras e ganhar, no mínimo, três habilidades: ser leitor voraz dos melhores escritores; ser escritor contumaz, permanentemente, ainda que um dia tenha que jogar no lixo toda a sua produção ou parte dela; não produzir para agradar à crítica ou a si mesmo, mas à magia do ato de escrever, pensando no leitor. E tudo isso deve ser somado à suprema convicção quanto ao árduo ofício do zelo à palavra escrita.
O segredo para quem se arriscar ao mergulho no oceano das palavras (sem escafandro) é, pois, fazer como aconselhou Drummond: “Chega mais perto e contempla as palavras./ Cada uma/ tem mil faces secretas sob a face neutra/ e te pergunta, sem interesse pela resposta,/ pobre ou terrível que lhe deres:/ Trouxeste a chave?”. No mais, é não se entregar nunca e tomar como advogado o que registrara, com felicidade, Rainer Maria Rilke, em sua obra Cartas a Um Jovem Poeta: “a vida tem razão em todos os casos".

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*Publicado no jornal Tribuna do Maranhão 10/12/2008.

TERRA SOL*

CÉSAR WILLIAM
(Poeta, professor de Língua Portuguesa e pesquisador -concludente do curso de Letras do Cesti-Uema)

“O homem está na cidade / como uma coisa está em outra / e a cidade está no homem / que está em outra cidade”. (Ferreira Gullar).
118 anos de sol e de sonhos. A menina do leste, flor equatorial, que a tudo resiste, noiva do futuro e prenhe de esperança aniversariou segunda-feira, 22/12. Ela que já foi porto, povoado, vila e cidade para ser definitivamente cidade, sorri para o Parnaíba que a seduz e é acariciada pela “gema incandescente”, acendendo a linha do Equador que renasce, aquecendo-nos a cada manhã.
Mais de trezentos mil olhos a contemplá-la – terra das Marias e dos Franciscos, povo que há de ficar sempre à eterna sombra das cajazeiras, “porque dos engenhos e das flores surgiu para nós”, canção-flor que faz sempre florescer poesia em nossa pele, em nossa alma.
Mas, amada, onde estão teus pássaros felizes a cantar? Teus lagos e lagoas? Tua carnaúba? Teu porto estará seguro? Que neste dia tão especial, reflitamos em torno do teu verbo e do teu verde, sob o verdor de nossa consciência. Que tua memória não fique apagada e que teus filhos ilustres não sejam lembrados apenas como nome de colégios, ruas ou praças, e que tuas reservas ambientais não se transformem apenas em desenhos ou fotos em raros livros.
Porque tu és e serás sempre a eterna Flores, na florescência do teu povo que te ama e que te homenageia todos os dias no labor diário: varrendo, cavando, plantando, regando, “caminhando e cantando e seguindo a canção”.
A ti, amada Timon, registramos nosso carinho e nossa gratidão por tua acolhida a este autor, há quase quatro anos. Que em 2009 possamos contribuir mais e melhor para o teu desenvolvimento, deixando nossa modesta contribuição. Feliz aniversário.

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*Publicado no jornal Tribuna do Maranhão 12/2008.

SONHO REALIDADE

CÉSAR WILLIAM
(Poeta, professor de Língua Portuguesa, pesquisador - Concludente do curso de Letras do Cesti-Uema)

Ainda menino, no esplendor da adolescência, embrenhei-me no matagal das palavras e aos poucos fui abrindo veredas, sozinho, seguindo trilhas as mais diversas e distintas: Nauro Machado, Guimarães Rosa, Rimbaund, Drummond, Rubem Braga, Shakespeare, Catulo da Paixão Cearense, Bandeira Tribuzi, Ferreira Gullar e tudo o que me chegava ao alcance dos olhos.
Aos 14 anos de idade, ganhei de presente da querida madrinha Aricéya Moreira Lima, a coleção completa de “Os Pensadores”, pela editora Nova Cultural. A partir desse feito, passei a gostar de alguns filósofos. Eles me fizeram entender alguns poetas. Tudo foi se tornando mais fácil e agradável para um autodidata que mais tarde se transformara em professor de língua portuguesa em vários colégios de São Luís: Ronald Carvalho, Dinâmico, Batista, Adventista e muitos outros, além de vários cursinhos pré-vestibulares.
Essa trajetória teve como nascedouro um sonho: o de escrever, escrever e escrever. Mas era difícil para um garoto egresso de camada simples da sociedade, filho de um operário e pertencente a uma família numerosa de seis irmãos.
Essa dificuldade teve sua recompensa. Ganhei um porto seguro: a senhora Aricéya. Ela e seu marido, meu padrinho, o jornalista Emanuel Silva, deram guarida a esse projeto e suguei deles todas as informações possíveis para que eu pudesse prosseguir minha viagem. Transformei a biblioteca deles em minha segunda casa.
Aos 17 anos, fui vencedor do I Festival Intercolegial de Poesia Falada e aos 21, publiquei meu primeiro livro de poemas, “O Errante”. Não o publicaria hoje, mas ele foi recebido como obra de autor promissor por parte de alguma crítica. A estréia abriu portas para mim e o opúsculo tornou-se conhecido. Está presente em várias antologias e em inúmeros sites.
A partir da estréia, passei a me envolver mais e mais com a leitura. Aumentou minha responsabilidade e também minhas exigências. Tornei-me autocrítico e me embrenhei cada vez mais na floresta das palavras.
Essa intensa dedicação brindou-me o título de professor de língua portuguesa, literatura e redação. Ainda na 3ª série do antigo científico, já ministrava aula para alunos do ensino médio. Mas, para o professor faltava o canudo.
Então fiz vestibular. Na primeira tentativa foi fracasso, entretanto, fui aprovado diversas vezes para Letras. Quando muito, matriculava-me. Em 2005, resolvi enfrentar novamente o vestibular, depois de quase 20 anos como autodidata. Escolhi a Uema, em Timon, porque o então governador, José Reinaldo Tavares alegara em certa entrevista que esta seria um paradigma de universidade.
Além do mais, em São Luís, a única opção para língua estrangeira seria inglês (eu não teria condição de concorrer com meus próprios alunos). Com a persuasão do “Zé” e apostando no novo, não pensei duas vezes. Resultado: fui aprovado em 4º lugar.
Confesso que a princípio me decepcionei, por questão estrutural. Até o 3º período do curso eu era a própria crítica, porém fui me rendendo à mestria dos excelentes professores, mestres também em outras instituições. Tive a sorte de fazer parte de uma turma eclética e que não se empalidece diante dos desafios.
Hoje, estou no último período do curso de Letras/Português do CESTI/UEMA e até junho/julho, deste ano, com a permissão de Deus, pretendo concluí-lo. Trata-se de mais uma etapa de uma longa caminhada que nasceu de uma solidão. De uma dor que eu não sei bem o que é.
Mas sei que é um sonho longo que venho realizando gradativamente, porque tracei metas. A história, por inteiro, das lutas travadas e dos empecilhos para eu tornar real o grande desejo de conciliar o professor com o poeta e com o escritor, fazendo o primeiro trabalhar em prol dos outros dois, está em um livro que estou escrevendo nestas férias, quase terminando, Professor de Mim.
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*Publicado no Jornal Tribuna do Maranhão.