quinta-feira, 26 de março de 2009

FANTASMAS DA RUA VILA SUL*

CÉSAR WILLIAM
(Poeta, professor de Língua Portuguesa, Literatura e Produção Textual e pesquisador. Concludente do curso de Letras do Csti/Uema)

Nosso planeta é uma gleba de cifras e cifrões. Vivemos perdidos em corredores de letras e númeross:CPF, CI, Título Eleitoral, chassi do carro, da moto, PIS/PASEP, telefone fixo, celular(es), e-mail, cartão de crédito, número da conta bancária, da agência, da senha. Não estou colocando em pauta o número dos candidatos a prefeito e a vereador. Temos ainda, o número da casa, da quadra, da rua em que moramos, seu Código de Endereçamento Postal etc.
E foi em relação a este último, caríssimo leitor, que terminei me sentindo um algarismo perdido na multipliocação dos registros burocráticos. Recentemente, ao me dirigir à agência 2726-X, do Banco do Brasil, para receber um cartão de crédito, fui surpreendido ao descobrir que não existo.
Sim! Isso mesmo, caríssimo leitor! É que há alguns meses mudei para a rua Vila Sul, do Bairro São Benedito, em Timon -MA. Ocorreu que para eu receber o tal cartão, teria que fornecer ao funcionário do BB o número do CEP daquela rua.
Eis que o funcionário, nadando em um oceano de calmaria, (mesmo diante de uma chusma de ansiosos clientes na fila de espera) soltou o seguinte alarde: "a rua Vila Sul não existe, senhor". Retruquei e ele obtemperou: "pelo menos não consta em nosso sistema".
Ao ouvir a discrepante sentença, engoli uma bola de fogo e senti o borbulhar do meu sangue, dos pés à cabeça, mas contive-me e contrar-argumentei:"quer dizer que os comprovantes de residência que lhe apresentei nada valem. Então o SAAE e a CEMAR estão emitindo boletos a fantasmas na Rua Vila Sul. Eu, a Socorro, a Niele, Dona Raimundinha, a Julinha e tdos os moradores daquela rua somos espectros?
Em meio a um bate-e-rebate, dirigi-me à agência dos Correios em Timon e um funcionário certificou-me que realmente a rua Vila Sul ainda não possui registro e que provisoriamente eu teria que me utilizar do CEP geral da cidade.
Depois disso, retornei ao banco e percebi que a quantidade de senhados aguardando a chamada eletrônica para atendimento havia qüinqüimplicado e que eu deveria portar nova senha. Saltei do número 17 para o 121.
Então, dirigi-me à mesa 1, a mesma em que havia sido atendido e ouvi as mesmas argumentações. Notando que seria puro desgaste, dirigi-me ao gerente e este, a par da situação, finalmente liberou o cartão. Retornei à mesma mes para aquisição de senha e desbloqieio da nova aquisição. Respirei aliviado.
Mas, diante do sistema de endereçamento da Empresa de Correios e Telégrafos - ECT, eu e todos os moradores da Vila Sul estamos no sul do anonimato e esperamos que não haja demora para que passemos a ser incluídos na relação de endereços do BB.
Caso contrário, teremos que fornecer o endereço do próprio banco, já que terminamos, mesmo sem querer, morando nas intermináveis filas daquela agência, sendo recepcionados por um lentíssimo atendimento.
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*Publicado no jornal Tribuna do Maranhão , 19ª edição (05/08/2008)

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